Correio do Ribatejo - Reflexos – Manifesta em Santarém 20 anos depois
Reflexos – Manifesta em Santarém 20 anos depois
Vinte anos depois, o movimento de associações e projetos de desenvolvimento local voltou a reunir-se em Santarém. Foi na passada semana, de 5.ª feira a domingo, numa manifestação e festa das Associações de Desenvolvimento Local, mas também em espaço de discussão e troca de ideias.
Se na primeira edição o espaço utilizado foi uma das naves do então recentemente inaugurado Centro Nacional de Exposições, desta feita foram utilizados espaços como o Mercado Municipal para a Mostra de Produtos; os Claustros do Mosteiro de São Francisco para a Mostra de Projetos; a Igreja do Mosteiro para as sessões formais de abertura e encerramento, para Assembleia Geral da Manifesta e para vários concertos que ali decorreram diariamente e espaços como o recentemente recuperado Palácio Landal e a Sala de Leitura Bernardo Santareno para espaços e debate, conferencias, encontro e apresentação de projetos.
Decorreram ainda tertúlias em alguns cafés da cidade, com a animada participação de escalabitanos e forasteiros.
Se há vinte anos, os problemas fundamentais do movimento rondavam questões como o excessivo economicismo das nossas vidas, o vazio ético e social, a necessidade de uma nova ética no relacionamento humano e se lançavam conceitos como “interlocalidades”, para procurar precisar o espaço do desenvolvimento local, o padrão de problemas das nossas sociedades, particularmente as mais desfavorecidas não se alterou significativamente. Digamos que se se conseguiu em muitos casos conter a degradação social galopante particularmente nos meios rurais, não se conseguiu inverter a tendência para o seu abandono.
As conclusões dos diversos grupos de trabalho deram bem conta disso, mas também da esperança que se evidenciou sempre que novos projetos foram apresentados, sempre que a capacidade de inovação surpreendeu os circunstantes e isso aconteceu com alguma frequência, ou que novos projetos nasceram do contacto estabelecido em Santarém por novos e diferentes atores sociais.
Na assembleia final, alguém referia que mesmo nestes tempos conturbados e difíceis, vir à Manifesta representou um reencher o peito com novas energias, novos parceiros e novas forças, para um combate pelo desenvolvimento que não terá fim e ao qual não podem ser dadas tréguas.
Cada noite, a Igreja de São Francisco transformava-se também em espaço de espectáculos, por onde passaram alguns grupos musicais de tessitura alargada e um pouco de todo o país, trazendo sonoridades diversas, das mais rurais, às mais urbanas, mas de surpreendente qualidade e diversidade. A festa esteve assim ao seu melhor nível, reconciliando os espíritos e o corpo, na simbiose da alegria de estar junto de conhecer o outro de saber mais, de nos manifestarmos na festa.
Só foi pena que apesar da interceção de São Francisco, São Pedro não se tenha apiedado da Manifesta e de Santarém e o tempo tenha sido quase sempre impiedosamente chuvoso, ventoso e frio, mas os agentes do movimento local já estão habituados a dificuldades e não foi a meteorologia que os abalou.
Nuno Domingos